A imagem enquanto leitura e escrita do mundo: "leveleve" e a ferida colonial em São Tomé

Abstract

Esta tese foi desenvolvida para perceber como a imagem ativa os pontos de vista das pessoas nas roças de São Tomé. A partir de conjuntos de imagens, narrativas visuais, foi possível observar como os santomenses interpretam a vida, seus saberes e suas histórias. As narrativas foram montadas para funcionar como experiências de interações entre corpos, lugares e imagens. Os recursos utilizados foram o Jogo da Memória, o Cinema na Roça, o Círculo Cultural e o Museu das Invasões, além de uma exposição fotográfica. Todos eles se conectam e contribuem para a prática de uma Antropologia ecológica com as pessoas, além de terem sido elaborados enquanto visualidade de resistência à modernidade. Em dois meses junto com as pessoas de São Tomé, fomos moldando a metodologia e a teoria de acordo com cada atividade, revisitando a história colonial, reconhecendo aspectos culturais da ilha, redefinindo conceitos como liberdade, tempo, conhecimento e memória. As reflexões decorrentes trazem a ideia da roça/comunidade, ou simplesmente comunidade, como categorias nativas que ressituam a roça e a empresa agrícola. Neste cenário, o "leveleve" salta como um estilo de vida santomense, no qual a categoria "futuro" é inexistente como parte do dia a dia e da história. Por fim, esta tese chama a atenção para o poder das imagens na tessitura dos discursos e para a necessidade constante de presentificar a diversidade de vozes e visualidades nas narrativas, constituindo-se, portanto, como projeto que continua em outras publicações digitais, alimentadas ao longo da vida, em diálogo e transformações.

This thesis was developed to understand how image activates the points of view of people in the plantation estates (Roças) of Sao Tome. From sets of images, visual narratives, it was possible to observe how the Sao Tomeans interpret life, their knowledge and their stories. The narratives were set up to function as experiences of interactions between bodies, places and images. The resources used were the Memory Game, the Cinema in the Roca, the Cultural Circle and the Museum of Invasions, in addition to a photographic exhibition. All of them connect and contribute to the practice of an ecological Anthropology with people, in addition to being elaborated as a visuality of resistance to modernity. In two months together with the people of Sao Tome, we shaped the methodology and theory according to each activity, revisiting colonial history, recognizing cultural aspects of the island, redefining concepts such as freedom, time, knowledge and memory. The resulting reflections bring the idea of the rocas / community or, simply, community as native categories that re-situate the roca and the agriculture company. In this scenario, the "leve-leve" stands out like a Santomean lifestyle, in which the category future does not exist as part of everyday life and history. Finally, this thesis brings attention to the power of images in the tessitura of discourses and to the constant need to make present the diversity of voices and visualities in the narratives, thus constituting itself as a project that continues in other digital publications, updated along the years, in dialogue and transformations.