Ted Honderic: o princípio da humanidade e a injustificação moral do terrorismo

Abstract

O propósito desta dissertação tem como ponto de partida a perspetiva do filósofo Ted Honderich como foco principal de uma tentativa de compreensão das principais questões morais suscitadas pela guerra, em particular do fenómeno do terrorismo e da guerra terrorista. O autor é assim apresentado como uma tentativa de fazer um contraponto com a visão tradicional da Teoria da Guerra Justa defendida por Michael Walzer, para quem o terrorismo é sempre moralmente injustificado, e por isso “a crítica das (suas) desculpas” parece apresentar-se como o único lugar possível no campo argumentativo. São muitos os pontos de coincidência e de divergência entre estes dois autores – se por um lado a igualdade moral dos combatentes e a imunidade dos não-combatentes são pontos em que são concordantes, as suas posições sobre a liberdade do povo da Palestina não parecem semelhantes, nem próximas. Também foi dedicada uma boa parte da minha atenção à apresentação do princípio da humanidade, que segundo Honderich é aquilo que está mais de acordo com a moral natural e que é a melhor base para julgar o fenómeno do terrorismo e de o condenar. Este princípio é-nos apresentado como aquilo que realmente é necessário para salvarmos as pessoas de terem vidas más e esse deve ser o cerne dos nossos direitos e obrigações morais. Esse princípio da humanidade implica a adoção de um conjunto de políticas que têm como propósito fundamental resgatar as pessoas do sofrimento causado pela fome, pela guerra, pelas carências económicas, o que acarreta determinadas práticas de igualdade e de oportunidade e uma democracia avançada que ampliam os princípios das justiça propostos no liberalismo de Rawls.

The purpose of this dissertation is to analyse the views of the philosopher Ted Honderich, as the main focus of an attempt to understand some moral issues raised by war, in particular the phenomena of terrorism and of terrorist war. The perspective of the author is presented as an attempt to make a counterpoint to the traditional view of Just War Theory, defended by Michael Walzer, for whom terrorism is always morally unjustified and, for this reason, “a criticism of (its) excuses” seems to be the only possible answer in the argumentative field. There are some points of coincidence and divergence between these two authors - if the moral equality of the combatants and the immunity of the noncombatants is a point on which they are in agreement, their positions on the freedom of the Palestinian people do not seem to be similar, nor close. Much of my attention has also been devoted to the understanding of “the principle of humanity”, which, according to Honderich, is what is most in line with our natural morals and also the best basis for judging and condemning the phenomenon of terrorism. This principle is presented as what we really need to apply if we want to save people from having bad lives - it must be at the heart of our moral rights and obligations. This “principle of humanity” implies the adoption of a set of policies whose fundamental purpose is to rescue people from suffering caused by hunger, by war, and by economic needs. Furthermore, this principle leads to certain practices of equality and opportunity and an to advanced democracy that amplifies the principles of justice proposed by Rawls' liberalism.