Revisão sistemática da composição da microbiota intestinal em indivíduos com doença de Huntington
Resumo
Resumo: A doença de Huntington (DH) é uma doença genética rara, autossômica dominante e neurodegenerativa progressiva, sendo caracterizada por alterações no comportamento, movimento e cognição. Estudos apontam que as características da microbiota intestinal são essenciais para a função cerebral e que disbioses intestinais foram relatadas em diversas doenças neurodegenerativas, incluindo a DH. Portanto, o objetivo deste trabalho foi sintetizar as evidências disponíveis sobre a composição e interferência da microbiota intestinal em indivíduos com DH. Foi realizada uma revisão sistemática seguindo as recomendações do Instituto Joanna Briggs e do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), por meio de buscas nas bases de dados Scopus, Web of Science e no motor de busca Pubmed, além de busca manual nas listas de referências dos estudos incluídos. Foram incluídos estudos originais avaliando a composição da microbiota intestinal em indivíduos/animais com DH, tendo sido excluídos artigos publicados em caracteres não romanos e na forma de resumo. As buscas foram realizadas em março de 2023. A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada por meio de ferramentas selecionadas com base no desenho do estudo (i.e., Newcastle-Ottawa [NOS] para estudos do tipo caso-controle, SYRCLE's risk of bias tool para estudos realizados em animais). As etapas de triagem, elegibilidade, extração dos dados e avaliação da qualidade metodológica foram realizadas por dois revisores, de maneira independente, seguidas de reuniões de consenso. Na ausência de consenso, um terceiro revisor foi consultado. A partir da revisão sistemática foram incluídos nove estudos, dos quais três eram do tipo caso-controle e seis foram realizados com animais. Para os estudos do tipo caso-controle, a pontuação média da NOS foi de 7 (variando de 6 a 8), o que demonstra qualidade metodológica moderada a alta. Para os estudos realizados em animais, a maioria apresentou baixo risco de viés para os domínios referentes ao alojamento aleatório, dados incompletos, reporte de desfecho seletivo e outras fontes de vieses, e risco incerto para os domínios de cegamento dos investigadores e dos avaliadores dos desfechos, bem como para o item referente à randomização na seleção dos animais para avaliação dos desfechos. Os resultados demostram que a composição da microbiota intestinal frequentemente é alterada em pacientes com DH, pois os estudos que avaliaram a microbiota em indivíduos/animais com DH relataram algum tipo de disbiose. De acordo com esses estudos, os microorganismos mais prevalentes na microbiota intestinal dos indivíduos/animais com DH são Bacteroidetes, Firmicutes, Tenericutes, Proteobacteria, Actinobacteria, Cianobactérias, Deferribacteres, Lactobacillus e Verrucomicrobia. Esses achados demonstram que o intestino consiste em potencial alvo terapêutico na DH, podendo ser explorado para retardar o início da doença, facilitar o diagnóstico e trazer opções de tratamento. Portanto, novos estudos sobre este tópico podem produzir mais evidências acerca dos potenciais benefícios da modulação da microbiota intestinal para os portadores da DH. Abstract: Huntington's disease (HD) is a rare genetic disease, autosomal dominant and progressive neurodegenerative, characterized by changes in behavior, movement and cognition. Studies indicate that the characteristics of the intestinal microbiota are essential for brain function and that intestinal dysbiosis has been reported in several neurodegenerative diseases, including HD. Therefore, the objective of this work was to synthesize the available evidence on the composition and interference of the intestinal microbiota in individuals with HD. A systematic review was carried out following the recommendations of the Joanna Briggs Institute and the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), through searches in the Scopus, Web of Science and Pubmed search engines, in addition to manual search in reference lists of included studies. Original studies evaluating the composition of the intestinal microbiota in individuals/animals with HD were included, and articles published in non-Roman characters and in abstract form were excluded. Searches were performed in March 2023. Methodological quality of included studies was assessed using tools selected based on study design (i.e., Newcastle-Ottawa [NOS] for case-control studies, SYRCLE's risk of bias tool for animal studies). The stages of screening, eligibility, data extraction and methodological quality assessment were carried out by two reviewers, independently, followed by consensus meetings. In the absence of consensus, a third reviewer was consulted. From the systematic review, nine studies were included, of which three were case-control and six were carried out with animals. For case-control studies, the mean NOS score was 7 (ranging from 6 to 8), which demonstrates moderate to high methodological quality. For animal studies, the majority had a low risk of bias for the domains related to random placement, incomplete data, selective outcome reporting and other sources of bias, and uncertain risk for the domains of blinding investigators and outcome raters , as well as for the item referring to randomization in the selection of animals for evaluating the outcomes. The results show that the composition of the intestinal microbiota is often altered in patients with DH, as studies that evaluated the microbiota in individuals/animals with DH reported some type of dysbiosis. According to these studies, the most prevalent microorganisms in the intestinal microbiota of individuals/animals with HD are Bacteroidetes, Firmicutes, Tenericutes, Proteobacteria, Actinobacteria, Cyanobacteria, Deferribacteres, Lactobacillus and Verrucomicrobia. These findings demonstrate that the intestine is a potential therapeutic target in HD and can be explored to delay the onset of the disease, facilitate diagnosis and provide treatment options. Therefore, new studies on this topic may produce more evidence about the potential benefits of modulating the intestinal microbiota for HD patients.
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