Paul FRESTON, Lusotopie 1999, pp. 383-403
A Igreja universal do reino de Deus na Europa
processo pelo qual a Igreja universal do reino de Deus (IURD) temse expandido por várias dezenas de países, inclusive Portugal e Inglaterra, é um capítulo importante de uma das principais transformações religiosas do final do século XX : a transformação do pentecostalismo em religião global e a mudança do centro, não só numérico mas também do impulso expansionista internacional, para regiões distantes dos centros históricos do protestantismo1.
A globalização do protestantismo pentecostal
O estudo do mundo de fala portuguesa (possivelmente o segundo maior bloco lingüístico no protestantismo hoje) ajuda a superar o paroquialismo de algumas perspectivas sobre a religião na era da globalização. É preciso levar em conta as transformações do cristianismo em décadas recentes : recessão na Europa e estagnação nos Estados Unidos foram contrabalançadas pelo crescimento do protestantismo na América latina e de todas as formas de cristianismo na África e no Extremo Oriente. Mas o livro
Religion and Globalization (Beyer 1994), por exemplo, nada fala dessa expansão cristã, sobretudo pentecostal, no terceiro mundo. A constituição de um pentecostalismo global2 é quase sempre ignorada pela academia porque ocorreu, em grande parte, independentemente das iniciativas religiosas do mundo ocidental desenvolvido. Esse pentecostalismo global é também culturalmente policêntrico3. A história do cristianismo se caracteriza pela expansão em série, ao contrário da expansão progressiva do islão (Walls 1995). Enquanto este se espalhou a partir de um centro geográfico imutável, o cristianismo foi sujeito a mudanças periódicas no seu centro. Avanços para além da periferia acompanharam o declínio do antigo centro. O resultado é a constante
1. Este trabalho se baseia em pesquisa de campo feita em Portugal, Inglaterra e Brasil. 2. Segundo estatísticos do cristianismo mundial, a ala pentecostal-carismática teria sido 6 % da cristandade em 1970, sendo estimada atualmente em torno de 25 % (BRIERLEY 1996). 3. A luta por um «cristianismo culturalmente policêntrico » seria, segundo COX (1988), o cerne da discórdia entre Leonardo Boff e o Vaticano nos anos 1980.
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