"Uma mãe como se não tivesse filhos" [recurso eletrônico] : contradições entre maternidade e as práticas curriculares e institucionais em um curso de ciências biológicas
Laissa Mayara da Silva Paz
DISSERTAÇÃO
Português
T/UNICAMP P298m
["A mother as if she had no children" ]
Campinas, SP : [s.n.], 2022.
1 recurso online (154 p.) : il., digital, arquivo PDF.
Orientador: Maria Inês de Freitas Petrucci dos Santos Rosa
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin
Resumo: A imposição da maternidade como um "destino biológico" de todas as mulheres e algo necessário para sua completude como indivíduos é um estereótipo que silencia suas individualidades. A historicidade da relação mãe-filho mostra que os discursos e normas sobre a mesma foram profundamente...
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Resumo: A imposição da maternidade como um "destino biológico" de todas as mulheres e algo necessário para sua completude como indivíduos é um estereótipo que silencia suas individualidades. A historicidade da relação mãe-filho mostra que os discursos e normas sobre a mesma foram profundamente modificados em vista de esforços governamentais e sociais para atingir fins políticos e econômicos. Nesse sentido, as Ciências Biológicas têm contribuído para a naturalização de modos de pensar e agir taxados como "masculinos" ou "femininos"; as diferenças anatômicas e fisiológicas são tidas como as responsáveis por estereótipos de gênero. Sendo os cursos de Ciências Biológicas dentro das universidades um dos mais relevantes espaços diretamente relacionados a produção e disseminação de conhecimentos que possam estar atrelados a ideias que interseccionam maternidade e determinismo biológico, é importante olhar para tais processos para investigar forças que atuam nos mesmos. Apoiada nos referenciais teóricos sobre estudos narrativos e feminismo matricêntrico, a presente pesquisa busca responder à questão: "Como a identidade profissional da Biologia imprime o que professoras do curso de Ciências Biológicas pensam sobre a maternidade e ser mulher? ". Para isso, professoras mães do curso de Ciências Biológicas de uma universidade pública paulista foram entrevistadas para contarem suas histórias de vida, de modo a ser possível compreender como o dispositivo da maternidade se manifestou ao longo de suas trajetórias acadêmicas e pessoais; quais as dificuldades específicas ligadas ao fato de serem mulheres e mães elas encontraram no ambiente acadêmico; e como a relação entre biologia e maternidade aparece em suas vidas pessoais e acadêmicas. As docentes narram entraves em suas carreiras relacionadas à queda da produtividade, falas machistas explicitas ou em formas de "brincadeiras", ausências de políticas que permitam conciliar seu trabalho com a maternidade e ausência de formas justas de avaliar sua produtividade acadêmica, que é dificultada uma vez que se tornam mães. Apesar de terem um elevado grau de instrução e jornadas integrais de trabalho, o que representa um avanço em relação a pautas feministas de longa data, uma vez que se tornaram mães, essas narradoras viram antigas premissas sobre mulheres se concretizarem em suas vidas, mantendo-se os moldes tradicionais de família, onde a mulher é a principal responsável pelos cuidados domésticos e com os filhos, agora com o aditivo de terem que conciliar uma carreira de tempo integral. Também se evidencia a contradição da instituição onde trabalham entre conciliar o que se ensina sobre comportamento e fisiologia em relação à maternidade com suas próprias práticas institucionais para com as mães. Ressalta-se aqui a importância de considerar aspectos políticos e sociais que permeiam o conhecimento biológico e a sua historicidade, de modo a dar espaço a outras possibilidades de ensinar e produzir conhecimento. Pontua-se que a prática de um currículo narrativo, o qual permita que histórias como a das professoras aqui entrevistadas possam fazer parte do processo de ensino e aprendizagem para além dos conteúdos, é de grande importância para desnaturalizar práticas curriculares e institucionais machistas e pensar em novos rumos sociais e educacionais
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Abstract: The idea of motherhood as a "biological destiny" for all women and also something necessary for them to feel fulfilled as individuals is a stereotype that ignores their individuality. The mother-child relationship historicity shows that discourses and norms about it have been greatly...
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Abstract: The idea of motherhood as a "biological destiny" for all women and also something necessary for them to feel fulfilled as individuals is a stereotype that ignores their individuality. The mother-child relationship historicity shows that discourses and norms about it have been greatly modified over time by governmental and social efforts in order to achieve political and economic ends. In this sense, the Life Sciences have contributed to naturalizing ways of thinking and acting that are labeled "masculine" or "feminine"; in addition, anatomical and physiological differences are considered to be responsible for gender stereotypes. Since Life Sciences courses within universities are one of the most relevant spaces directly related to the production and dissemination of knowledge that may be linked to ideas that intersect motherhood and biological determinism, it is important to look at such processes to investigate what influences them. Supported by theoretical frameworks on narrative studies and matricentric feminism, this research seeks to answer the question: "How does the professional identity of biology influence what Life Science professors think about motherhood and being a woman?". For this purpose, professors of the Biological Sciences course at a public university in São Paulo state and who are also mothers, were interviewed to tell their life stories to make it possible to understand how the motherhood dispositif manifested itself throughout their academic and personal trajectories; what specific difficulties linked to the fact of being women and mothers they encountered in the academic environment; and how the relationship between biology and motherhood appears in their personal and academic lives. The professors narrate obstacles in their careers related to the drop in academic productivity, explicit sexist speeches or in forms of "jokes", absence of policies that allow them to reconcile their career with motherhood, and lack of fair ways to evaluate their academic productivity, which is hampered once they become mothers. Despite having a high level of education and full-time work, which represents an advance in relation to long-standing feminist agendas, once they became mothers these women experience old assumptions about women coming true in their lives. The traditional molds of family are maintained, where the woman is primarily responsible for housekeeping and childcare, now with the addition of having to balance a full-time career. In the institution where they work is also evident the contradiction between reconciling what is taught about behavior and physiology in pregnancy and motherhood with their own institutional practices towards mothers. The importance of considering historical, political and social aspects that permeate biological knowledge and their historicity is emphasized here, in order to make room for other possibilities of teaching and producing knowledge. It is pointed out that the practice of a narrative curriculum, which allows stories like that of the teachers interviewed in this research to be part of the teaching and learning process beyond the content, is of great importance to denaturalize sexist curricular and institutional practices and to think in new social and educational directions
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Requisitos do sistema: Software para leitura de arquivo em PDF
Petrucci-Rosa, Maria Inês, 1962-
Orientador
Grassi-Kassisse, Dora Maria, 1964-
Avaliador
Selles, Sandra Lucia Escovedo
Avaliador
"Uma mãe como se não tivesse filhos" [recurso eletrônico] : contradições entre maternidade e as práticas curriculares e institucionais em um curso de ciências biológicas
Laissa Mayara da Silva Paz
"Uma mãe como se não tivesse filhos" [recurso eletrônico] : contradições entre maternidade e as práticas curriculares e institucionais em um curso de ciências biológicas
Laissa Mayara da Silva Paz