Resumo: Este ensaio parte da premissa de que faz parte da lógica de envelhecimento dos objetos culturais que o modo como eles são lidos ao longo do tempo se sedimente de forma a afetar suas possibilidades de sentido, o que faz com que essas camadas precisem ser enfrentadas por tentativas...

Resumo: Este ensaio parte da premissa de que faz parte da lógica de envelhecimento dos objetos culturais que o modo como eles são lidos ao longo do tempo se sedimente de forma a afetar suas possibilidades de sentido, o que faz com que essas camadas precisem ser enfrentadas por tentativas subsequentes de interpretação. Sendo assim, nossa hipótese é a de que a tendência de leitura prospectiva de 1984 simplifica a relação entre ficção e realidade histórica – simplificação essa que vem a calhar para um objeto de alta circulação cultural, funcionando tanto como causa possível quanto como consequência relativamente inevitável. Desse modo, nossa proposta aqui é a de sugerir uma inversão nos termos usuais do debate ao redor do romance mais famoso de George Orwell, passando por três níveis relacionados entre si. O primeiro diria respeito à substituição do impulso prospectivo pela visada retrospectiva, rumo à historicidade das formas por meio de uma análise do comportamento do discurso indireto livre no romance. Por sua vez, o segundo nível privilegia a complicação em detrimento da simplificação, e de novo em termos formais: sendo inadequada a caracterização do estilo de Orwell nos moldes do discurso indireto livre de corte realista, entender o que surge em seu lugar é um dos propósitos deste ensaio. Por fim, o terceiro nível diz respeito ao problema da verossimilhança no romance, com aquilo que nele parece mais forçado se tornando interessante justamente por desafiar o bom senso dessas convenções realistas

Abstract: This essay's premise is that it is in the logic of the aging of artworks that the way they are read through time is sedimented into their possibilities of meaning, making it so that these layers of sedimented meaning must be dealt with by subsequent attempts of interpretation. Thus, our...

Abstract: This essay's premise is that it is in the logic of the aging of artworks that the way they are read through time is sedimented into their possibilities of meaning, making it so that these layers of sedimented meaning must be dealt with by subsequent attempts of interpretation. Thus, our hypothesis is that the tendency of reading George Orwell's 1984 prospectively oversimplifies the relationship between fiction and historical reality - an oversimplification which is by its turn useful to an object of such cultural presence, working both as possible cause and relatively inevitable consequence. So, we attempt to suggest an inversion to the usual terms of discussion around Orwell's most famous work, going through three interconnected levels. The first one would have to do with the substitution of the prospective impulse for a retrospective one, reaching the historicity of forms through an analysis of the workings of free indirect style in 1984. By its turn, the second level favors complication over simplification, again in formal terms: after finding out that the characterization of Orwell's use of free indirect style as favoring realism is basically inadequate, we try to identify what comes into shape in its place. Finally, the third level pertains to the problem of verisimilitude in the novel, taking seriously what in 1984 most defies common sense without underplaying or attempting to justify it in order do see what lies beyond the semblance of realist conventions

Aberto