Envolvimento, stress e eficácia parental na qualidade de vida das crianças em período pandémico

Abstract

A presente investigação subjaz uma abordagem ecológica do desenvolvimento psicossocial da criança e, como tal, a saúde geral da criança e a sua qualidade de vida (QdV) são elementos basilares, sendo os dois constructos multifatoriais determinantes e condicionantes do processo saúde-doença (Gaspar & Matos, 2008). O período pandémico pela COVID-19, no qual as famílias se viram perante sucessivos confinamentos, caracterizados por diversas exigências, teve consequências em diversas esferas, nomeadamente no exercício da sua parentalidade. Um construto que tem vindo a ser estudado, o envolvimento parental, poderá ter sido um dos domínios afetados, uma vez que é assumido como fulcral no ajustamento académico e emocional das crianças. A presente investigação tem como principal objetivo analisar o impacto do confinamento familiar no bem-estar de crianças (idades entre os 6 e os 12 anos), considerando o nível de envolvimento parental, stress, satisfação e eficácia parentalavaliados em três momentos distintos (i.e., confinamento, pós confinamento e final do ano letivo). A amostra é composta por 131 participantes (N = 131), mães (71,8%) e pais (28,2%), com idades entre 29 e 55 anos (MMãe = 41,40, DPMãe = 4,83; MPai = 39,47; DPPai = 4,11), cujas crianças frequentavam o 1º (63,6%) e o 2º (36,4%) ciclos de ensino básico (MIdade = 8,57; DP = 2,60). Procedeu-se à avaliação de características sociodemográficas das famílias (e.g., estabilidade financeira, fatores de risco, habilitações literárias), bem como do KIDSCREEN-10, do Questionário de Estilos e Dimensões Parentais, do Parenting Sense of Competence,do Questionário de Envolvimento Parental - versão para pais e Escala de Stress Parental. Na sua generalidade, os resultados revelaram diferenças significativas na saúde geral e QdV da criança, bem como no envolvimento parental entre o primeiro e o último momento de avaliação. Contudo, não se observam diferenças significativas ao nível da competência parental (satisfação e eficácia) e do stress parental. As dimensões avaliadas apresentaram diferenças consoante características sociodemográficas dos progenitores e condições familiares (e.g., sexo do progenitor, habilitações académicas e nível socioeconómico). As implicações práticas do presente assentam na compreensão do impacto do confinamento em crianças, bem como nas suas relações de suporte e dinâmicas parentais.

This research underlies an ecological approach to the child's psychosocial development and, as such, the child's general health and quality of life (QoL) are key elements, both being multifactorial constructs that determine and condition the health-illness process. The pandemic period by COVID-19, in which families were faced with successive confinements, characterized by several demands, had consequences in several spheres, namely in the exercise of parenting. A construct that has been studied, parental involvement, may have been one of the domains affected, since it is assumed to be central to children's academic and emotional adjustment. The present research aims to analyze the impact of family confinement on the well-being of children (ages 6 to 12 years old), considering the level of parental involvement, stress, satisfaction and parental efficacy evaluated in three different moments (i.e., confinement, post-confinement and end of the school year). The sample is composed of 131 participants (N = 131), mothers (71.8%) and fathers (28.2%), aged between 29 and 55 years (MMother = 41.40, SDMother = 4.83; MFather = 39.47; SDFather = 4.11), whose children attended the 1st (63.6%) and 2nd (36.4%) cycles of basic education (MAge = 8.57; SDAge = 2.60). We assessed the families' sociodemographic characteristics (e.g., financial stability, risk factors, academic qualifications), as well as the KIDSCREEN-10, the Parenting Styles and Dimensions Questionnaire, the Parenting Sense of Competence, the Parental Involvement Questionnaire - Parents' version, and the Parental Stress Scale. Overall, the results revealed significant differences in the child's general health and QoL, as well as in parental involvement between the first and last time points of assessment. However, no significant differences were observed in parental competence (satisfaction and efficacy) and parental stress. The assessed dimensions showed differences according to the parents' sociodemographic characteristics and family conditions (e.g., gender of the parent, academic qualifications and socioeconomic level). The practical implications of the present study are based on the understanding of the impact of confinement on children, as well as on their supportive relationships and parental dynamics.