In temporalidade e memória no património arquitetónico

Abstract

Aos elementos arquitetónicos a que reconhecemos um valor cultural próprio, não pelo êxtase da novidade, mas pelo carácter identitário que comportam, apelidamos conscientemente de Património. Os valores que lhe conferem esse carácter são valores temporais e memoriais. A constituição destes ‘lugares antropológicos’, permite ao Homem, quer como indivíduo, quer em sociedade, criar para com eles uma relação de comunhão e pertença; uma identidade. Através da memória, é possível estabelecer uma relação entre os vários tempos do lugar – demonstrados pelas diferentes marcas deixadas quer pelas intervenções no próprio edificado, quer pelos vincos do uso humano –, entendendo as suas relações para com o Homem ao longo do tempo e permitindo trazer o passado para o presente, com vista a que este possa ser experienciado e interpretado, conduzindo a um planeamento fundamentado do futuro. O património é, assim, o reflexo do tempo, a memória viva, no presente, dos tempos passados. Apesar do valor que atribuímos a estes (IN)TEMPORALIDADE E MEMÓRIA NO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO Uma proposta de Reabilitação da Quinta de Sto. António em Évora elementos patrimoniais, a sociedade de hoje continua a permitir que o consequente uso incorreto e/ou abandono deste edificado, conduza a uma degradação que tende a culminar numa perda dos valores patrimoniais e identitários da própria sociedade. O contexto desta reflexão prende-se no objetivo de constituir um ‘instrumento operativo’ capaz de, através da definição de estratégias de reabilitação para adequar a vida do edificado às exigências contemporâneas, promover uma valoração cultural e identitária do lugar, permitindo por sua vez, a prevalência dos valores socias apensos ao mesmo. Para a aplicação prática deste enquadramento, propõe-se uma intervenção na ‘Quinta de Santo António’ em Évora com vista a incrementar e resgatar os valores do conjunto, adaptando-o, sob a forma de um uso ligado à corrente turística, às exigências da contemporaneidade.

ABSTRACT: To the architectural elements to which we recognize an own cultural value, not by the ecstasy of novelty, but by the identity character that they possess, we knowingly call them Heritage. The values that give this character are temporal and memory values. The constitution of these 'anthropological places' allows man, either individually or in society, to create with them a relationship of communion and belonging; an identity. Through memory, it is possible to establish a relationship between the several times of the place - presented by the different marks left by the interventions in the building itself, or by the creases of human use , understanding their relations with man over time and allowing us to bring the past into the present, so that it can be experienced and interpreted, leading to a reasoned planning of the future. Heritage is thus the reflection of time, the living memory, in the present days, of past times. Despite the value we gave to these patrimonial elements, today's society keeps allowing the consequent misuse and abandonment of those buildings, leading to a degradation that tends to culminate in a loss of the patrimonial and identity values of the society itself. The context of this reflection is based on the objective of constituting an 'operative tool' capable, through the definition of rehabilitation strategies to adapt the building to the contemporary demands, to promote a cultural and identity valuation of the place, allowing in turn, the prevalence of their own social values. For the practical application of this framework, it is proposed to intervene in ‘Quinta de Santo António’ in Évora with a view to increasing and rescue the values of the set, adjusting it, in the form of a utilization connected to the tourist stream, to the demands of contemporaneity.