Discriminação percecionada pela população cigana portuguesa nos cuidados de saúde

Abstract

A perceção de discriminação pelos utentes em contextos de saúde está associada a piores indicadores de saúde. Porém, medidas validadas para avaliar a discriminação em cuidados de saúde são escassas no contexto português. Este estudo teve como objetivos traduzir e validar a Discrimination in Medical Settings (DMS) Scale para a população portuguesa cigana, avaliar experiências de discriminação em contextos de saúde e avaliar a relação entre a discriminação percecionada, a perceção individual de saúde e a confiança nos cuidados de saúde. Método: 84 adultos (60.7% mulheres) de etnia cigana preencheram a DMS, 5 itens referentes a microagressões em contextos de saúde, 2 itens sobre a perceção de saúde e confiança nos cuidados e uma pergunta aberta sobre outras experiências de discriminação. A análise fatorial foi usada para determinar a estrutura fatorial subjacente à DMS e o coeficiente de Alpha de Cronbach para avaliar a fiabilidade e consistência interna da DMS. Resultados: Uma versão de 7 itens apresentou um valor de alfa de Cronbach de .89 com um único fator a explicar 71.80% da variância. A discriminação global percecionada a partir da DMS teve uma média de 2.46 (DP 1.03). Verificou-se uma correlação negativa entre a discriminação e a perceção de saúde (r = -.31, p = .004) e uma correlação negativa entre a discriminação e a confiança nos cuidados de saúde (r = -.67, p < .001). Conclusão: A DMS apresentou uma adequada validade e fidelidade, constituindo um instrumento de grande utilidade para o estudo da discriminação percecionada nos cuidados de saúde em Portugal. Os níveis de discriminação percecionada pela população cigana portuguesa em contexto médico são elevados e estão associados a uma menor perceção individual de saúde e menor confiança nos cuidados de saúde.

Introduction: Perceived discrimination in medical settings is associated with poor health care outcomes. Nevertheless, few instruments have been developed to evaluate patients’ perceived discrimination in Portugal. This paper aims to translate and validate the Discrimination in Medical Settings (DMS) Scale for the Portuguese Romani population, explore experiences of discrimination in healthcare settings and evaluate the link between perceived discrimination in medical settings, individual health perception and trust in health care. Methods: 84 adults (60.7% women) of Roma ethnicity filled the DMS, 5 items referring to microaggressions in health contexts, 2 items about health perception and trust in care, and answered an open question about other experiences of discrimination. Factor analysis was used to determine the factor structure underlying the DMS and Cronbach's Alpha coefficient to assess the reliability and internal consistency of the DMS. Results: A 7-item version had a Cronbach's alpha value of .89 with a single factor explaining 71.80% of the variance. The overall discrimination perceived from the DMS had an average of 2.46 (SD 1.03). There was a negative correlation between discrimination and health perception (r = -.31, p = .004) and a negative correlation between discrimination and trust in health care (r = -.67, p < . 001). Conclusions: The DMS is a useful instrument to study perceived discrimination in Portuguese healthcare settings. Levels of perceived discrimination in medical settings for Portuguese Romani were high and were strongly related to individual perceptions of health and healthcare trust.